O meu nome é Susana Simões Pereira e desde pequena que as histórias me fascinam.
Lembro-me de serões de aldeia, em que os meus avós e os vizinhos se reuniam à lareira e à luz das velas para contar episódios da vida de algum antepassado, em jeito de bálsamo para a saudade, ou então peripécias quase surreais do dia, como quando a gulodice da vaca a levou a entrar no celeiro e o chão cedeu com o peso do animal, que foi parar ao andar de baixo.
Adorava quando a minha mãe relembrava a curiosidade do meu irmão bebé, traduzida numa dentada imprudente num cato que espreitava o sol no parapeito da janela.
As histórias sempre foram capazes de me gerar emoção, empatia ou repulsa, mas é inegável que elas me fazem sentir viva.
Licenciei-me em Matemática, tendo optado pelo ramo educacional, porque achava eu que gostava de ensinar e a construção da narrativa lógica em volta dos argumentos matemáticos é, para mim, equiparável a um diamante. Hoje percebo que o que mais me fascinava no tempo em que fui professora, foi vestir os conceitos, os termos e as demonstrações de uma camada narrativa que me fazia sentir a beleza e a riqueza do que eles significam para a evolução do conhecimento humano.
A minha primeira experiência profissional foi no Observatório Astronómico de Coimbra, que ainda hoje recordo com grande fascínio. Aprendi aí as várias narrativas que o Sol nos vai contando com os seus ciclos de atividade e dos seus fenómenos aos olhos da Física Solar. Manuseei espetroheliogramas como se de verdadeiro ouro se tratasse, registos de fenómenos como manchas solares, protuberâncias, ocorrência de eclipses ou trânsitos de`Vénus passaram a ter um sabor ainda mais doce.
Passei ainda pelo Museu da Ciência como monitora durante breves meses, usando as narrativas como base para comunicar a espetacularidade de alguns fenómenos físicos e químicos.
Durante mais de uma década fui formadora, professora e explicadora. Ensinei, partilhei e transmiti experiências a alunos desde tenra idade e até à idade adulta. Hoje, quando penso nisso, reconheço que recolhi desses tempos uma riqueza inigualável de saberes, interesses, experiências e paixões graças às várias centenas de pessoas com quem contactei.
Senti que precisava expressar a minha paixão pela Ciência e pela Narrativa de alguma outra forma e por isso decidi fazer o doutoramento em Comunicação de Ciência na Universidade do Porto. Aí pude colocar nomes, reconhecer e desenvolver técnicas essenciais para ser a profissional que sou hoje.
Atualmente tenho dificuldade em definir-me porque as minhas paixões são muitas e empreendimentos também, mas curioso ou não ,todos eles têm como base o uso da narrativa.
Hoje dou formações, trabalho em comunicação de saúde e visualização de dados na empresa Bright Digital e resolvi dar azo à minha paixão pelo exercício físico tendo-me tornado também técnica de exercício físico e professora de Pilates...e até neste contexto...é a narrativa a base de tudo, por mais estranho que possa parecer.
Além disso, motivos de força maior conduziram-me a uma necessidade de olhar também para a minha narrativa interna...saber um pouco mais de onde venho e quem sou. Tem sido um desafio nem sempre fácil mas muito enriquecedor em que começaram a emergir narrativas às quais eu não tinha acedido antes, mas que o meu inconsciente alberga. Umas felizes, outras nem tanto, mas confesso a minha crescente curiosidade neste processo que cada vez mais me conecta a quem eu sou.
Em paralelo, ao longo do tempo fui dando umas "pinceladas" pelo mundo da costura criativa por meio dos tapetes e sacos narrativos, pelo mundo narrativo das mandalas, pelo canto, pelo bordado, e gostava um dia de aprender seriamente a dançar e devolver-me a capacidade me expressar através da escultura, algo que deixei em stand-by há mais tempo do que gostaria.
Já vai longa a história, mas, mais uma vez, as histórias fascinam-me, e quem acede a este espaço sabe que elas são para serem contadas.